quarta-feira, 27 de maio de 2009

Pra lá de Marrakech

No terceiro da viagem fomos pra lá de Marrakech, literalmente... Fizemos um passeio pelo Vale d'Ourika, numas montanhas perto de Marrakech.
Saímos de manhã, às 9 horas. A nossa delegação era formada por Ally e Shea, duas texanas (nossas companheiras de quarto no albergue), três casais franceses e por nós três!!
No começo ninguém falava nada, mas depois de meia hora de viagem já estávamos entrosadas com os seis franceses, que se mostraram pessoas muito amáveis ao longo do passeio.
Durante a viagem fizemos várias paradas, em todas elas haviam uma loja onde tentavam nos vender alguma coisa. As primeiras paradas foram sem graça.

Até que chegamos ao momento tão esperado: o passeio de camelo!!!!
No lado da estrada haviam uns oito camelos grandes e mais dois filhotes. A Raquel foi a primeira a subir. Eu estava com frio na barriga, mas criei coragem e subi. Eles fazem o camelo se ajoelha pra você subir nele. Na hora que ele se levanta dá um medo porque ele vai pra frente e pra trás, a sensação é que vamos cair. Mas depois é muito tranqüilo, eles andam bem devagar. Nós três e as texanas fizemos o passeio, que durou uns vinte minutos. Foi muito divertido andar de camelo, apesar de não ter sido no deserto...


Depois fomos conhecer a casa de um berber. Berber é como são chamados os moradores das montanhas de Marrocos. Eles vivem igual aos seus antepassados e sobrevivem da agricultora e artesanato. Eles têm sua própria linguagem e costumes... A casa era muito simples e rústica. Como pode-se imaginar não havia nenhuma tecnologia, televisão, geladeira, fogão, nada... A 'geladeira' é em uma peça da casa, onde as paredes eram revestidas por argila para conservar a temperatura das comidas. Fomos recebidas por um berber chamado Mohamed, um jovem de aparentemente trinta anos. Tudo que ele nos contava, ele falava em inglês, francês e espanhol! Isso é incrível... um morador do interior de Marrakech falar mais de três línguas. E lá, eles realmente são muito cultos. Mohamed foi só um exemplo, mas era percebível como os marroquinos falavam (e bem) mais de duas, três línguas! Ah, e Mohamed estava usando havainas com a bandeira do Brasil!!


Bom, depois da visita a casa de um berber, seguimos nosso passeio até uma aérea bem bonita, onde almoçamos. Como os valores estavam um pouco inflacionados, nós três dividimos um prato. Os franceses, então, comovidos com nossa situação, compartilharam algumas coisas com a gente!
Havia um deles que lembrava muito meu pai.. durante todo passeio lembrei bastante da minha família...

Tivemos uma pequena confusão com o motorista da van, porque havíamos comprado um pacote que levava até a cascata, mas chegando lá queriam que pagássemos mais pelo guia. Resolvemos então fazer por conta própria. Nós, os franceses e as texanas fomos explorando a natureza de Marrocos até chegarmos a cascata. Durante todo o trajeto os franceses foram muito queridos, sempre nos ajudando a subir nas pedras (não que precisasse hehe) e íamos conversando! Realmente eles tornaram nosso passeio muito agradável, foram ótimas companhias.
Assim foi nosso passeio pelo Vale d'ourika! Emocionante, na hora de andar de camelo, relaxante no contato com a natureza e divertido com nossos queridos/as amigos/as franceses! As texanas também eram legais, mas elas não se misturavam muito...


Termina assim nosso passeio pra lá de Marrakech.

Ao voltarmos para o vuco-vuco, aproveitamos a última noite em terra marroquina para tomar suco de laranja, comer, olhar pela última vez as lojinhas e gastar até o último centavo de Dirhans (no meu caso é verdade).

Um beijo pessoal e desculpem pelo resumão, mas são 2:20 da manhã e terei que acordar às 8:00 pq vamos ir para Barcelona!! =)

Viva Marrakech!

Conhecer Marrakech, viver essa cidade, foi uma experiência única. Marrakech ou Marraquexe é uma mistura de sensações! A cidade é toda ocre, muitas ruas sem calçamento, muitas pessoas transitando - não ser atropelada lá é uma conquista porque bicicletas, motos, cavalos, pessoas e vendedores disputam as pequenas ruas. A cidade parece um mercado gigante, muitas lojinhas vendendo tapetes, lenços, copos de chás, bules, luminárias, roupas, mas não fica só nisso. Há muita história na cidade e muita cultura pelas ruas. É triste que as construções históricas estejam deterioradas, talvez a única em boa conservação seja a Mesquita La Kouotoubia, que tem uma grande torre que pode ser vista a distância. A arquitetura árabe é bem discreta. A cidade oferece várias atrações, como jardins, palácios, túmulos da dinastia sádida... Conhecemos o Palácio Bahia, lindo em seus detalhes e azulejos.

Marrakech, antigamente, era dentro da Medina. Hoje é uma grande cidade, ultrapassando os limites do muro da Medina. Passamos quase todo o tempo dentro da Medina, conhecendo o máximo que podíamos da cidade, da cultura e das pessoas. Saímos dos muros somente uma vez (e para voltar foi uma tarefa árdua) e nos deparamos com uma 'cidade grande'. Lojas de marca, Mc'Donalds, prédios, grandes hóteis...A única diferença de uma cidade grande é a inexistência (ou quase escassa) de semáforos, o que tornava o ato de atravessar ruas uma adrenalina!! Voltando para o coração da cidade, a medina: A praça 'Jema El Fnaa', é um espaço para desfrutar diversas bebidas, principalmente chás e suco de laranja (delicioso, por sinal), comidas (há várias tendas de comidas que lembram o ver-o-peso de Belém). Na noite há muitas atrações, como as serpentes encantadas pelas flautas, jogos, pessoas com roupas tipicas tocando diversos e diferentes instrumentos, muitas muçulmanas (ou imitações delas) fazendo tatuagens de rena nas mãos dos turistas, homens com pobres macaquinhos em coleiras...


Há alguns metros da praça está a mesquita la Koutoubia, o grande templo da cidade. Em algumas horas do dia, todos altos falantes, colocados no topo das mesquitas e em cima das casas, transmite uma oração, chamando as pessoas a irem para a mesquita orar. Sempre antes de orar ou tocar no Alcorão as pessoas lavam o rosto, as mãos e os pés. Passamos pela mesquita quando estava num momento de oração, haviam muitos homens (só homens). Nós, não muçulmanos, não podemos entrar nas mesquitas.
A cidade é cheia de rosas coloridas e árvores, principalmente palmeiras. É, também, um lugar místico. O formigueiro que são as ruas, a mistura de cheiros, de pessoas diferentes e o barulho constante dos vendedores tornam Marrakech muito atrativa!
Além dessa explosão de sensações, Marrakech é um choque de cultura. Ver mulheres usando burcas, algumas tapam tudo (exceto os olhos), a predominância de homens no comércio, a pobreza pelas ruas (muitos velhinhos e crianças pedindo dinheiro e vendendo coisas) nos faz refletir.

Evidentemente a diferença entre Marrocos e Europa é gigantesca A diferença é muito grande da Europa. E, outra, é a receptividade do povo marroquino. Apesar de pouco nos comunicarmos (a maioria só fala árabe e francês), as pessoas eram muito amáveis (nem todos) com a gente. Logo que chegamos, mostramos o endereço do albergue para uma jovem que estava numa parada de ônibus, então ela nos acompanhou até ele. Entre gestos e um pouco de inglês sobrevivemos a essa experiência. Um episódio engraçado foi com o moço que cuidava da portaria do albergue, nós não havíamos levado despertador e precisávamos acordar cedo nos dias, então falávamos para ele, apontado para o relógio, “seven, toc toc toc” hehe E, às sete horas da manhã ele batia na porta do nosso quarto! =) Termos viajado em três mulheres dificultou um pouco, porque tínhamos que ouvir piadinhas dos homens, algumas não entendiamos, mas outras em português e espanhol, sim... Mas, tirando as frases e os olhares (extremamente agressivos), foi tudo muito tranqüilo. Eles gravam a cara dos turistas, tanto que no último dia, quando passávamos pela rua, nos chamavam de espanholas ou brasileiras. Volto dessa viagem com muitas pessoas em minha memória, marroquinos que conheci que foram muito gentis. Me sentia no Brasil! Falando em Brasil, preciso contar minha alegria quando saí com a camisa do Grêmio e muitos marroquinos o reconheceram. Eles falavam: Grêmio, Brasil! Heheh
Falando em Grêmio, no dia em que estava com a camisa, um casal de namorados, também gremistas, foram até a gente para tirar uma foto! E depois, encontramos mais dois gremistas!!


Conhecia duas 'lendas' de Marrakech: Uma, que eles comiam cérebro de macaco. Não sei se é verdade! Só vi sendo preparado cérebro de cordeiro. A segunda é que eles trocam mulheres por camelos, ouvimos uma quando passamos por uma rua um homem fez uma brincadeira perguntando por quantos camelos nos trocariam.
Além de provar e sentir um pouco dessa encantadora cidade, experimentamos algumas coisas típicas, como tâmaras, tagine au poulet, o famoso chá... A única coisa que não foi possível provar foi a cerveja marroquina. Procuramos, mas dentro da Medina não é permitido beber, nem vender. E como sair da Medina, de noite é muito arriscado e longe, ficamos sem. Até encontramos uma cerveja, mas era sem álcool.
Assim foram os dois primeiros dias em Marrakech, explorando as ruas, conhecendo pessoas, comprando algumas coisinhas e nos encantando por aquela 'bagunça' toda! hehehe
Logo escreverei sobre o terceiro e último dia em Marrocos!

'Chucran' =)

sábado, 9 de maio de 2009

Ida, no te vayas!


Ontem fizemos uma festinha surpresa de despedida para nossa companheira de piso, a Ida.
Suas amigas, muito queridas, organizaram tudo com muito cuidado. Decoraram o salão com balões, cartaz dizendo que sentiremos saudades... As meninas levaram várias comidas: batatas locas (batata frita, presunto ralado, frango desfiado, queijo ralado, ketchup e maionese, uma delícia!), esse prato é sempre feito por Ida, pois é lá das Ilhas Canárias.. a famosa torta de batatas, outra delícia daqui! Nós, brasileiras, contribuímos com caipirinhas!
Estávamos todas ansiosas, arrumando os últimos detalhes, esperando a chegada de Ida. Tudo estava pronto, comidas na mesa, câmara pronta para filmar, velas acessas, luz apaga e Ida chegou! Nos escondemos atrás da mesa e “Surpresa”!
Ida ficou contentíssima, sem palavras. Nós estávamos triste, vamos perder nossa querida companheira de piso. Ida é uma pessoa muito querida, a pessoa mais desligada que conheci. Sentiremos saudade do seu jeito atrapalhado, de ver suas coisas estragando na geladeira sem que ela se dê conta de tirá-las, de suas coisas espalhadas pela casa, a bagunça do seu quarto, de sempre termos que tirar o lixo, encher as garrafas de água porque ela nunca se dá conta, dos seus ataques de nervos por besteiras, mas também de sua alegria, seus comentários...
Voltando a festa de ontem, foi divertidíssimo. As meninas espanholas são uns amores, muito alegres. Nos ensinam a dançar flamenco e jota. Nós ensinamos elas a sambar! Ao som de músicas espanholas, dançamos muito! As meninas tem uma amizade muito bonita, são bem unidas! Foi inevitável não lembrar das minhas queridas amigas que estão no Brasil. Gurias, vocês estão sempre no meu coração e nossa amizade é importantíssima pra mim. Saudade!
Beleza, aí depois da festinha fomos para a Calle Paraíso, bar Taj Mahal. Sempre o mesmo! Sair com as gurias é assim: de bar em bar e sempre começamos pelo mesmo! Viramos um chupito e marchamos para outro bar.
Ontem aconteceu um episódio muito triste e inacreditável. Dois amigos nossos, queridíssimos, foram barrados na entrada de um bar. Motivo: eram negros. Meu coração se partiu. Uma atitude dessas é inaceitável, sempre! Mas ver isso acontecer com dois amigos, duas pessoas muito queridas, sempre dispostas a ajudar, sempre preocupados, é muito triste! Em exemplo, semana passada, quando eu estava gripada, não fui a aula de espanhol e Anzis (um deles) ganhou uma cerveja na rua e ele me deu ela, de presente para que eu me recuperasse logo. Ele sempre faz questão de vir nos acompanhar até em casa, mesmo nós dizendo que não é necessário. Anzis é uma pessoa fantástica, e Loick, o outro, também! E dói muito ver cenas de preconceito!
Tirando esse triste acontecimento, a noite foi muito divertida! Sair com as meninas é sempre muito divertido... em breve contarei mais sobre as festinhas com elas! Agora tenho q ir me arrumar que temos um aniversário! =)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Mi ciudad española

O que faz uma cidade ser bonita ou não? Ser boa para viver? Para responder essas perguntas podemos pensar em vários motivos que torna uma cidade ótima, boa ou ruim para se viver.
Para mim, uma cidade, a 'cidade ideal' tem que ter duas coisas: pessoas alegres e natureza.
Pessoas alegres?! Aqui em Valladolid há todos os tipos de pessoas.. Há muitos velhinhos, muitas crianças, muitos bebês, muitos adultos e muitos jovens. Os jovens são alternativos. Não é novidade encontrar uma garota na rua com uma calça vermelha, uma blusa amarela, o cabelo meio liso, meio crespo, percingis, unhas coloridas.. Há muita diversidade! O bonito é ser diferente. Eu sempre penso que já vi de tudo, até a sair na rua novamente. Então, aqui há pessoas bonitas, coloridas. Mas e alegres? Agora que chegou a primavera, posso dizer que as pessoas parecem estar mais alegres, há muita gente pelas ruas. Aqui há uma frase que explica esse fenômeno: “Cuando llega la primavera, el sangre se altera”. O sol se põe somente depois das 21:00, até lá, e depois também, os bares estão sempre cheios. Quando chegamos aqui, a primeira impressão que tive foi que o povo era muito fechado. Essa opinião não mudou, porque as pessoas continuam fechadas, mas talvez eu já tenha me acostumado um pouco e também com a ajuda da primavera, tudo parece mais colorido (e é!) e mais fácil!
Além das pessoas, a cidade mudou com a chegada da Primavera. As árvores secas se transformaram em lindas árvores cheias de folhas verdes! Os canteiros se coloriram com flores, os pássaros começaram a cantar. As pombas continuam...
Valladolid não tem muitos espaços com natureza, mas as ruas são bem arborizadas. Há uma prainha, como chamamos carinhosamente um pequeno rio com um pouco de areia. Ontem fomos tomar um cerveja lá com uns amigos, o sol estava muito quente e a haviam mts pessoas na praia, mas gostaria de contar, em especial, de uma senhora (provavelmente com uns 60 e poucos anos) tomando banho de sol, de pé, e sem a parte de cima do biquíni. Ela estava bem tranqüila...
A natureza é a segunda característica para uma cidade ideal. É necessário lugares com muita natureza: parques, gramas, árvores... Aqui não há muito disso. Há um grande parque, onde têm pavões soltos, mas lá há grama para sentar e descansar.
Assim, chego a conclusão que Valladolid não é uma cidade ideal, mas eu gosto dela mesmo assim.
Aqui é ideal para os boêmios, o que não é meu caso. Há uns três bares por quadra, sem exagero. A cerveja é mais barata que um suco. E você entra nos bares sem pagar nada! É uma maravilha!
Mas natureza e pessoas amáveis... não há!!
Um parêntese: Os vallasolitanos e os caxienses são parecidos. Da mesma forma que encontrei pessoas fantásticas na minha querida Caxias do Sul, encontrei algumas aqui. Existem muitos espanhóis queridos. Alguns eu decobri que não são de Valladolid. Mas há alguns (pouquíssimos) que são daqui!